DE VOLTA PARA O PASSADO: O DJ DOS ANOS 80 E 90

 

DJ Márcio do Atalanta

            Há pessoas que gostaram tanto das décadas de 1980 e 1990 que decidiram ficar lá para sempre. Esse clichê – seguidamente utilizado em referência àquela galera que curte experiências retrô para celebrar a nostalgia dos bons tempos do passado – se aplica perfeitamente a Márcio Luiz Boesing, mais conhecido em Pinhalzinho e no oeste catarinense como “Márcio do Atalanta”, alcunha que mantém desde 1994, quando tomou a dianteira do “Atalanta Sonorizações”, equipe itinerante que por muitos anos percorreu a região promovendo eventos e tocando nos mais variados locais, de clubes modernos a singelos salões comunitários do interior.

            Atualmente com 48 anos, Márcio trabalha na maior parte do tempo como motorista de ônibus, mas não esconde que a magia da mesa de som e das pistas de dança está no seu coração e até na sua pele, uma vez que ostenta no antebraço direito uma tatuagem com o paredão de caixas de som que era a marca registrada dos ditos “sons mecânicos” que tanto sucesso fizeram em décadas passadas, proporcionando diversão e gerando memórias afetivas que até hoje são celebradas por muitos que vivenciaram aquela época.

            Na noite em que nos encontramos para conversar, Márcio usava uma camiseta estampada com a mesma imagem da tatuagem, acrescida da frase “Atalanta para sempre!”, deixando claro que, para ele – assim como para toda uma geração de nostálgicos, na qual se inclui o autor deste texto – o tempo de curtir a boa música das décadas de 80 e 90 ainda não acabou. E nem vai acabar. Em Pinhalzinho, assim como em inúmeras outras cidades do Brasil e do exterior, há um público fiel para esse tipo de som, tanto que desde 2019 o grupo “Amigos do Flashback” promove festas periódicas que procuram reviver o clima e o ambiente daquele período, e têm sido um grande sucesso.

            Márcio – que além de festas próprias também produz eventos em parceria com o grupo – não abre mão do repertório retrô. “Quem me contrata já sabe o que vai levar”, diz ele, “Toco algumas poucas músicas do início dos anos 2000, mas a grande maioria é anos 80 e 90”. Modern Talking, Pet Shop Boys, Depeche Mode, Erasure, Bad Boys Blue, Aqua e Vengaboys são alguns exemplos de artistas cujos clássicos têm presença confirmada na seleção do DJ. O som nacional também é lembrado através dos sucessos de bandas como RPM, Paralamas do Sucesso, Cidade Negra, entre outros.

            Quando questionado sobre o porquê da predileção por trabalhar apenas com repertório de décadas passadas, o DJ não vacila ao responder: “Porque as músicas antigas são bem melhores do que as atuais”. Oscilando entre o presente e o passado, Márcio também destaca que aquilo que o motiva a continuar atuando na noite é o fascínio com todas as etapas envolvidas no trabalho de sonorização de eventos, não apenas da discotecagem propriamente dita. “Eu tinha uma equipe de piazada que trabalhou comigo durante muitos anos”, explica ele, “E a gente se divertia com tudo, desde o preparo do local e a montagem do equipamento até a hora de recolher as coisas e embarcar no ônibus para ir embora”.

            Parece evidente então que, para os fãs das festas retrô, curtir e dançar ao som de músicas antigas não significa apenas rememorar os bons tempos de antigamente, mas também fortalecer laços de amizade, estreitar a convivência e afinizar relacionamentos entre aqueles que compartilharam os sonhos e as experiências de uma geração onde as coisas pareciam mais simples e mais leves. “Dá a impressão que antigamente o pessoal se divertia mais”, comenta Márcio, “Hoje em dia têm alguns jovens que parecem estar sempre exigindo tudo, reclamando de tudo e não se divertindo com nada”.

            O perfil dos frequentadores das festas de flashback é algo que parece reforçar essa visão. Cerca de 80% do público seria composto por pessoas acima dos 40 anos, percentual complementado por uma parcela mais jovem que, segundo Márcio, “reconhecem a grande qualidade das músicas de antigamente”. Sob essa perspectiva, os eventos retrô seriam também um ponto de contato entre gerações, daqueles que viveram seus anos dourados embalados pelas canções de outrora, e dos que têm agora a oportunidade de apreciar os grandes clássicos que marcaram o passado.

            Na casa do DJ, esse passado marcante parece nunca ter ficado para trás. Nas paredes, quadros que reproduzem capas de discos dos anos 80 e 90, além de fotos das diferentes formações estruturais do Atalanta Sonorizações. Ali do lado – aos olhos de todos e ao alcance da mão – fica a mesa de som, ferramenta de trabalho sempre a postos “Para preparar o repertório e treinar umas mixagens”, explica Márcio.

            Em última instância, parece que essa predileção saudosista vai além do simples gosto pelas músicas de outras épocas. As festas retrô ganham caráter de resistência – ou até de reexistência, como diria Luiz Antonio Simas – frente a uma contemporaneidade onde as modas são passageiras cada vez mais vertiginosas, os sucessos são efêmeros e a qualidade musical do que se ouve é pra lá de duvidosa. Frente a uma geração onde muitos parecem não saber mais como se divertir, em meio a uma indústria cultural bastante interessada em lucro e pouco interessada em qualidade, e cheia de opções “instagramáveis” mas carentes de autenticidade, é compreensível que muitas pessoas prefiram adentrar no túnel do tempo e reviver os anos dourados mais uma vez. E assim, com os olhos no futuro, mas um pé no passado, seguimos em frente.

 

André Bozzetto Junior

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