MONUMENTO VIVO

 

Foto de Malú Prado

            Nasci no início da década de 80, então para mim é como se ele sempre estivesse estado lá. Um monólito vegetal. Ele me vem à mente tão tarde da noite e o vejo imponente, fixado como um vigilante gigante em uma praça deserta. Ninguém circulando debaixo de sua sombra majestosa? Deve ser porque está frio e as pessoas já estão em casa, ao redor do fogão à lenha ou enroladas em algum cobertor, assistindo TV no sofá da sala. Dá para sentir o cheiro da fumaça exalada das chaminés. Cheiro de inverno, que contrasta com o cheiro de eucalipto, sempre fresco e vivo em qualquer época do ano.

            Fico pensando: e se árvores tivessem memória? Quantas histórias daqueles que não estão mais lá, dos que ainda estão, e de todos que já estiveram. Quantas crianças se divertiram escalando seus galhos monumentais ou brincando no parquinho aconchegado em sua sombra? Quantos devaneios de jovens testemunhados em conversas no círculo de bancos tão bem alocados em torno do ancião arbóreo? Quantos desejos se desvaneceram como as névoas do fim do inverno? Quantos sonhos confidenciados ali se tornaram reais?

            Muitas crianças que, em algum momento do passado, ali erigiram fantasias na forma de castelos de areia, hoje observam seus próprios filhos crescendo em meio àquela mesma paisagem. Toda árvore têm raízes, mas as daquele grande monumento vivo são mágicas. Se firmaram na História de um lugar, na memória de todos que por lá passaram, e continuam crescendo para sempre, no solo da terra-mãe cujos filhos o elegeram como símbolo informal de tantas gerações, e também nos corações cujas sementes foram plantadas na forma de boas recordações.

 

André Bozzetto Junior

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