MEMÓRIAS AFETIVAS: A VÓ NORMA E TRAMANDAÍ

 

            Quando nossa família veraneava em Tramandaí, lá pelos idos das décadas de 80 e 90, costumávamos frequentar a praia apenas de manhã. As tardes eram destinadas a descansar, passear e realizar outros tipos de atividades. Eram nessas ocasiões que a minha saudosa avó, Dona Norma, me fazia seus convites.

            “Vamos na igreja?”, e eu ia, meio a contragosto. A minha versão infantil tinha em mente algumas dezenas de opções mais divertidas para passar aquelas horas do que ir à missa, mas, numa dessas conheci o goleiro Taffarel, formado no Internacional e que foi tetracampeão com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1994. Só por isso qualquer sermão de padre já valeria à pena.

            “Vamos no mercado?”. Às vezes estava calor e eu com uma preguiça danada, mas ia, porque sabia que na volta poderia barganhar churros lá no Centro.

            “Vamos na feira?”, e eu ia também, porque tinha certeza que voltaria com uma sacola em uma mão e um picolé na outra.

           Isso me faz lembrar um final de tarde específico. Acompanhando a vovó Norma ia eu e também o Vagner, meu irmão mais novo – que na época devia ter uns seis anos de idade. Era um período em que uma famosa marca de picolés tinha uma promoção: se ao degustar a guloseima você descobrisse que o palito era premiado, tinha direito a outro grátis. E lá estávamos nós três, sentados nos bancos do canteiro central da Avenida Emancipação, com as sacolas de frutas aos nossos pés, saboreando picolés.

            “O meu é premiado!”, anunciou, feliz da vida, o meu irmão, que iria encher a pança com mais um picolé. Imediatamente fiquei emburrado, porque eu já tinha terminado o meu e não havia nenhum anúncio de brinde no palito. “Esse aqui também é premiado!” emendou a vovó Norma, quase ao mesmo tempo. Fiquei ainda mais enciumado e emburrado? Claro que não, porque eu sabia que ela daria o picolé extra para mim. E assim voltamos para casa, com frutas e sorrisos nos lábios lambuzados.

            De lá para cá estive no Rio de Janeiro, em Florianópolis, Balneário Camboriú, Praia do Francês e do Gunga (AL), Punta del Este, Porto Seguro, Trancoso, Arraial D’Ajuda; todas maravilhosas ao seu modo, mas nenhuma em condições de tomar o lugar que Tramandaí ocupa no meu coração. Por quê? Porque em nenhuma delas tinha o Parque Tupã, o Fliperama Scorpion, o Cine Caiçara, o Taffarel ou qualquer outro dos preciosos elementos quem compõe o repertório das minhas memórias afetivas de infância. A vovó Norma, personagem de destaque deste pequeno texto, também não estava nessas outras praias. Ela esteve em Tramandaí, e quando fecho os olhos ainda a vejo lá, andando com uma sacola em cada mão e um menino a cada lado, fazendo aquilo que é a especialidade das avós: a alegria de seus netos.

 

André Bozzetto Junior

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Comentários

  1. Ainda bem que restam as memórias e a saudade. Abraço Junior.

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  2. Tempos q não voltan mais

    Mas era coisa mais linda sen maldades

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