NOSTALGIA: SALÃO BERTOTTI, “O SALÃO DAS MULTIDÕES” (DR RICARDO/RS)

 

            Durante a segunda metade da década de 90 e os primeiros anos da década de 2000, as principais baladas da parte alta do Vale do Taquari não aconteciam em clubes ou ginásios das maiores cidades, mas sim em salões de distritos interioranos e locais até então pouco badalados.

            A trinca de maior sucesso era formada pelo Salão Carboni, na Linha Pedro Álvares Cabral, interior de Anta Gorda, Salão Buzolli (ainda em atividade atualmente), na Linha Zanella, interior de Dr Ricardo e Salão Bertotti, sendo este último – o foco de nosso texto – o único que ficava em área urbana, nas margens da RS-332, também no município de Dr Ricardo.

            A primeira vez que ouvi falar do Salão Bertotti foi em 1996 ou 1997, através do próprio proprietário, que era carinhosamente chamado por muitos de “Tio Bertotti”, em uma noite em que ele esteve no bar do Hotel Perin em Ilópolis para colar cartazes e divulgar o evento que promoveria no final de semana seguinte. Conversou conosco, explicou do empreendimento que estava iniciando e nos convidou para conhecer.

            Na data em questão, eu e mais dois ou três amigos comparecemos. Não havia um grande público naquela noite, mas o ambiente agradável e a simpatia do Tio Bertotti – que fazia questão de tratar a todos como se fossem amigos de longa data – nos estimulou a voltar mais vezes.

            Outras pessoas devem ter tido a mesma impressão agradável que nós tivemos, pois rapidamente o público foi aumentando a cada festa, até que o local passou a ter casa cheia em praticamente todos os eventos. Além dos moradores dos arredores, havia cada vez mais frequentadores de Anta Gorda, Ilópolis, Putinga e Arvorezinha, além de ônibus que vinham lotados de Encantado, Muçum e Relvado, entre outros.

            Era tanta gente que, por volta do ano 2000, o proprietário se sentiu motivado a ampliar o espaço, construindo uma segunda pista de dança – um pouco menor – um lance de escadas acima da original. Foi nessa época que o local passou a ostentar a alcunha de “Salão das Multidões” que era utilizada nas campanhas publicitárias de divulgação dos eventos.

            Essa época coincidiu com o auge da fase das equipes de sonorização, ou “sons mecânicos”, que tocavam em festas por todo o Vale do Taquari e marcavam presença também no Salão Bertotti. Destroyer, Eclipse, Studio Dance, Universal e o mais badalado de todos, Enigma – do folclórico DJ Tampinha – estavam entre os que agitavam a galera nas saudosas noites daqueles tempos. Até o autor deste texto esteve por duas vezes tocando no local juntamente com o Som Flashback, onde quebrava um galho atuando como DJ.

            Com o passar do tempo, o Salão passou a enfrentar as mesmas dificuldades comuns à maioria das casas noturnas de lugares pequenos: saturação e falta de renovação do público. As multidões deixaram de comparecer e a baixa venda de ingressos levou o proprietário a encerrar as atividades do local.

            Contudo, o clima acolhedor – que misturava som, luzes e músicas da moda com uma ambientação tipicamente interiorana – e o tom festivo e amigável das baladas que ali ocorriam deixaram marcas em toda uma geração. Eu costumava frequentar eventos em toda a região e, particularmente, posso afirmar que nenhum local me parecia mais divertido do que o Salão Bertotti. Lá fiz amizades que mantenho até a atualidade e presenciei histórias divertidas que até hoje são relembradas nas rodas de bate-papo quando os amigos das antigas se reencontram.

            Inclusive, no nosso grupo circulava um bordão dando conta que “no Bertotti vai tanta mulher que só não arruma namorada quem não quer”. Se a situação era assim mesmo ou se aí tem um pouco de exagero, deixamos para os frequentadores da época puxar pela memória e ponderar.

            Em tempo: no ano de 2020 o local foi reformulado e reaberto pelo filho do proprietário original como nome de Rota 332.

 

André Bozzetto Junior      

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