UMA CRÔNICA SOBRE A MINHA PRAIA


 

                Todo mundo já ouviu alguém desdenhando que o litoral gaúcho é feio e sem graça. Que é apenas uma faixa de areia reta e desinteressante. Que o mar é gelado e seguidamente assolado pelo “chocolatão”. Que tem água-viva e o “nordestão”. A única exceção – dizem os críticos – é Torres, que no entender deles deveria pertencer a Santa Catarina. Todas as outras são ruins, na opinião dessa gente ranzinza.

            Então Tramandaí também é ruim, correto? Bem, talvez a Tramandaí dessas pessoas seja, mas a minha, aquela que comecei a frequentar ainda na infância, lá nos anos 80, sempre teve muito mais do que os elementos naturais como parâmetro.

            Na minha praia sempre teve milho verde com manteiga, picolé – anunciado pela corneta do vendedor – e refri gelado. Pipas de formatos diversos e aviõezinhos de isopor colorindo o céu. Frescobol, vôlei e futebol agitando a areia. Surf, bodyboard e prancha de isopor – “planonda”, para quem é mais chique – inundando o mar de diversão.

            Crianças brincando com baldinhos e pazinhas. Alguns adultos, mais dispostos, caminhando ou correndo na beira d’água, outros se bronzeando ou ainda relaxando debaixo dos guarda-sóis.

            E aí está a maior beleza, aquela que fez da minha Tramandaí a mais linda de todas: casais, famílias, amigos, todos socializando, interagindo, confraternizando, reforçando afetos, construindo memórias, vivendo experiências que deixam marcas para sempre.

            Na minha Tramandaí – parte feita de realidade e parte feita de sonhos – há fotos com o lendário Edifício Quebra-Mar imponente ao fundo, emoldurando recordações de duas gerações. Eu e o meu filho, personagens de um mesmo cenário, protagonistas de diferentes capítulos de uma mesma história, a História de nossas vidas.

            Feia? Sem graça? Só se for a dos outros. A minha praia é mágica. Tem castelos de areia que as ondas nunca destroem e pegadas que o vento nunca apaga. No verão ela está lá, esperando eu voltar, e nas outras estações está aqui dentro e vai comigo aonde quer que eu vá.

 

André Bozzetto Junior

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Comentários

  1. Que bela crônica. Você é um gênio meu querido sobrinho. 😘❤

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  2. Parabéns, Ju!! Recordações. Abraços

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