A BODEGA DO MEU AMIGO – OUTRAS HISTÓRIAS


 

            A fama de um lugar parece ser construída à base de verdades factuais, de exageros e também de ficções. Muitas vezes é difícil distinguir uma coisa da outra. Mas, para o folclore popular, não faz diferença. Se algo for inusitado, pitoresco e – principalmente – divertido, então já é suficiente para ficar enraizado no imaginário coletivo de quem conheceu, frequentou ou apenas ouviu falar de certos locais.

            Era assim na bodega do meu amigo. Você poderia ir lá a qualquer hora do dia ou da noite e haveria uma boa probabilidade de presenciar algo bizarro que viraria assunto por um bom tempo. Muitas das histórias que até hoje são lembradas sobre o lugar eu mesmo testemunhei, outras ouvi de frequentadores que davam as caras por lá para beber uma cerveja gelada ou jogar uma sinuca. Aliás, é sobre a sinuca que quero falar desta vez.

            Apesar de terem mais caimento do que uma rampa de skate e contarem com os tacos mais tortos do sul do Brasil, as mesas de sinuca do local eram bastante requisitadas. Havia partidas valendo Coca-Cola, cerveja e até dinheiro, mas a maioria eram amistosas mesmo, ainda que algumas – nem tão amistosas assim – terminassem em brigas, onde não raramente os tacos eram utilizados como porretes.

            Era surreal. Vi bolas voando para fora da mesa e atingindo copos de incautos que estavam sentados ali ao redor. Vi tacos serem quebrados e utilizados como lenha para um velho fogão onde estavam sendo assados pinhões no fundo do estabelecimento. Vi bêbados dormindo sobre as mesas nos raros momentos em que ninguém estava jogando nelas.

            E, por falar nos bêbados, logicamente eles rendiam as melhores cenas. Vi mais de um errando tacadas e, no embalo do movimento, se estatelando no chão. Ao final de um jogo de duplas – com os quatro participantes devidamente alcoolizados – vi quando eles já não se lembravam mais quem era parceiro de quem e, na hora de pagar a aposta, saíram no tapa entre si. Também acompanhei de perto o caso de dois indivíduos que – depois de passarem a tarde bebendo e jogando sinuca – se entediaram e decidiram promover ali mesmo um campeonato de “soco no peito”. Ainda bem que não foi soco na cara.

            Por outro lado, nunca tive o privilégio de ver o rato que fumava. Deixa eu explicar melhor. Dizem que, certa noite, dois sujeitos estavam jogando sinuca na mesa do fundo do bar, quando um deles jogou uma bituca de cigarro no chão. Imediatamente, um rato “do tamanho de um gato” saiu de uma fresta na parede, pegou a bituca e correu de volta para o seu esconderijo. Roedores vindo ajuntar restos de comida não eram novidade, mas interessados em bitucas de cigarro, era a primeira vez que se via por ali. Depois que a história se espalhou entre os frequentadores, virou uma espécie de hábito para os fumantes que estivessem na área da sinuca depositar as bitucas na beira da tal fresta. Havia quem dissesse ter visto o rato dando umas tragadas nos restos de cigarro que jogavam na entrada de sua moradia. Alguns diziam até ouvir umas “tossidinhas” vindo do interior do buraco.

            Um conhecido nosso jura que, certa madrugada, o bar já estava vazio e o bodegueiro se preparava para fechar o estabelecimento, quando uma barulheira veio da direção do depósito. Intrigados, os dois correram até lá e flagraram, nas palavras dele, “um rato de uns dois palmo de cumprimento chapatiando no prejunto!”. Surpreendido em flagrante delito, o bicho fugiu de volta para sua toca sem conseguir concretizar o furto do presunto.

            Realidade ou lenda urbana? Não sei. Mas que é divertido imaginar as estripulias do dito cujo, isso é.

 

André Bozzetto Junior

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NOTA: A segunda imagem é meramente ilustrativa, retirada de um meme da internet.          


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